Aprender Design

12 de dez de 2025

Perguntas, Respostas: Guilherme Durão

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Escola

Quem são os alunos e professores que fazem parte da Aprender Design? Na série “Perguntas, Respostas”, buscamos apresentar as trajetórias e as referências criativas de pessoas que formam a nossa comunidade. 

Conheça Guilherme Durão, Designer de Mídia Interativa e Mestre em Design pela PUC Rio.

Oi, Guilherme! Para alguém que nunca ouviu falar de você: o que acha que te define bem?

Tenho 27 anos, sou designer de mídia interativa e mestre em Design pela PUC Rio, com foco em tecnologias expressivas. Além disso, sou sócio fundador do Estúdio e Laboratório de Design SupLab, onde co-lidero projetos de inovação para grandes empresas e instituições culturais. Mas mais importante, sou obcecado por experimentar com toda superfície e técnica que encontro. Estou sempre estudando diferentes temas, até encontrar uma nova fixação para minha deriva.

Pode me contar um pouco da sua trajetória no design?

Minha trajetória é um pouco não convencional, na faculdade eu comecei na engenharia da computação e mudei de curso algumas vezes até ficar completamente perdido. Em uma crise, minha irmã me entregou uma prancheta com a ementa de todos os cursos que tinham disponíveis na PUC-Rio, e me deu um conselho: marque as disciplinas que você acha que vão ser divertidas, se você não sabe o que você quer fazer, ao menos se divirta nos próximos anos.

Desde então, escolhi o design e o design me escolheu. Fiz a graduação, o mestrado e todo dia me vejo estudando design de alguma forma diferente, sempre levando a sério o conselho de tentar me divertir.

Como sua experiência no mestrado em Design pela PUC-Rio influenciou sua forma de pensar e criar? Teve algum projeto, autor ou descoberta que mudou sua visão?

Na graduação conheci o filósofo tcheco naturalizado brasileiro Vilém Flusser, e desde então seu pensamento sobre caixas pretas tem sido tema central em meu trabalho autoral. No mestrado, amadureci essa pesquisa, que intitulei Máquinas que Deveriam Existir, e tive a grande oportunidade de passar uma temporada visitando, ouvindo e lecionando em algumas universidades de Design de Interação e Computação Experimental na Europa e Estados Unidos. Uma experiência única de abrir meus horizontes e valorizar ainda mais o design feito no Brasil.

Como foi o processo de criar seu próprio estúdio? Quais foram os maiores desafios?

Abrir um estúdio independente é um desafio constante, muitas vezes você se vê realizando tarefas que não tem nada a ver com a criação. Quando começamos a SupLab, o Laboratório de Superfícies, eu e meu sócio @_thiagoleal_, queríamos construir uma assinatura para os freelas que fazíamos juntos na época da faculdade. Seguimos nos profissionalizando, estudando, reunindo bons amigos para nos apoiar nas áreas que não éramos especialistas, e transformando o estúdio na medida que descobrimos quais eram os projetos que queríamos desenvolver.

Hoje, mais maduros e com um time um pouco maior, entendemos que a SupLab é um estúdio e laboratório de Design Digital, onde desenvolvemos projetos experimentais que desafiam os limites das mídias convencionais. Ao longo desses anos, já trabalhamos com clientes como Spotify, Globo, Melissa e Google Gemini, além de espaços de cultura e educação como o Museu do Amanhã, Aquafoz e o Museu de Arte do Rio.

A verdade é que eu nunca quis abrir um estúdio, mas ao mesmo tempo encontrei poucas oportunidades no mercado para fazer o que eu queria. A SupLab é acima de tudo a materialização de um desejo de criar e de como criar.

O que você busca como identidade ou filosofia de trabalho no seu estúdio?

Chamamos nossa filosofia de: Purpose driven experiments for unconventional creations.

Em tradução livre: Experimentos com propósito para criações não convencionais.

Na prática, isso significa que nos esforçamos para criar na SupLab um espaço onde todos têm tempo livre e incentivos para desenvolverem pesquisas paralelas, documentadas para criar um aprendizado compartilhado. Acreditamos que nesses experimentos surgem as descobertas que vão apoiar os projetos do amanhã. Para gerar esse espaço, apostamos em jornadas de trabalho menores e patrocinamos cursos para os nossos membros, inclusive fechamos uma parceria com a Aprender Design para 2026!

O que é design para você?

Gosto muito de uma definição que Walter Gropius escreveu na ocasião da fundação da Bauhaus, onde definia o papel da escola na formação desse novo profissional:

“Assim, nossa tarefa é criar um novo tipo de artista, um criador capaz de entender todo tipo de necessidade: não porque é um prodígio, mas porque sabe como abordar as necessidades humanas de acordo com um método preciso. Queremos torná-lo consciente de seu poder criativo, não amedrontado por novos fatos e independente de fórmulas em seu próprio trabalho.”

O design é, para mim, a união da arte com o método, impulsionado pelo futuro e suas novas possibilidades.

Como você enxerga a relação entre design, tecnologia e interatividade hoje? Quais mudanças recentes mais te animam ou te preocupam?

Enquanto pesquisador interessado nas máquinas que deveriam existir, encaro de maneira otimista as possibilidades que os aparelhos sempre geraram aos designers. Dito isso, entendo que todo processo de criação deve ser um processo de co-autoria entre criadores e suas máquinas. Cabe ao designer, através do domínio na manipulação desses artefatos e do reconhecimento dos limites de suas ferramentas, desenvolver estratégias próprias que permitam propor novos paradigmas de interação e expressão digital.

O ritmo que as novas técnicas vêm surgindo têm impulsionado o mercado a buscar soluções cada vez mais ousadas - que muitas vezes, semanas atrás sequer eram possíveis - o que coloca o designer num lugar de inventor que me parece ser de onde surgem as melhores ideias. Me empolga que estamos experienciando uma nova era do design, onde todo dia artefatos nunca antes pensados são criados. Alguns ainda conseguimos encaixar nos campos do design que conhecemos, mas creio que logo mais vamos precisar repensar o próprio design, como foi quando surgiram os computadores.

De todo modo, me preocupa um pouco o ritmo de produção esperado em um cenário de tanta mudança, acredito que nem todo processo criativo cabe no ritmo imposto pelo capital.

Tem algum trabalho no seu portfólio que você curtiu muito fazer? O que o torna especial?

Ano passado a SupLab desenvolveu o Bloco Awards junto da Oito.ag para Spotify. Foi um projeto marcante, que misturou código, sistemas visuais e fabricação digital para criar troféus únicos. Com ele conquistamos nosso primeiro prêmio, o Rayo de Prata no Latin Design Awards, um marco importante para um estúdio pequeno com ambições grandes como as nossas.

Pode compartilhar alguma referência marcante? Um artista, um estúdio, um livro, um jogo, uma tecnologia, qualquer coisa que te inspira recentemente.

Tenho admiração por diversos autores que me ajudaram a formar meu pensamento sobre o Design de Mídia Interativa como Vilém Flusser, Peter Lunenfeld, Red Burns e Nam June Paik. Já no campo prático, admiro o trabalho do André Burnier, designer que vem a anos esticando os limites do Design Generativo no Brasil e o Ksawery Komputery, um coletivo polones que experimenta com hardware e design.

Você foi estudante da escola. O que você mais curtiu na experiência? Algum momento, projeto ou professor que foi especialmente importante?

Fiz o curso de Design Visual para Produtos Digitais com o Marcos Rodrigues e o Rafael Bessa e achei toda a experiência muito interessante. Os professores passam do teórico ao prático, mostrando o por trás das cenas de grandes projetos e suas fontes de estudo/referências. Desenvolvi um projeto final com um grupo muito talentoso, que estendeu os encontros para além das aulas, criando um projeto final que foi motivo de muito orgulho, e até foi postado aqui ;)

Além de estudante, você tem experiência como professor. Quais aprendizados de sala de aula te acompanham e influenciam hoje a forma como você ensina, orienta ou lidera projetos?

Sim! Estou como professor no curso de extensão “Cenografia: O espaço Digital” na PUC-RIO, e também já pude lecionar cursos livres na PUC e na ITP/NYU. Além disso, dei aulas sobre fotografia analógica experimental e revelação durante 3 anos para alunos de todo o Brasil, no meu projeto Fotografia Analogica de Guerrilha.

Ensinar é uma experiência incrível, fui sortudo por encontrar professores e mentores ao longo da minha curta trajetória que me incentivaram a seguir minhas derivas. Sinto que isso me fez respeitar mais o tempo das coisas e valorizar ainda mais a experimentação livre.

O que você gostaria que mais pessoas entendessem sobre o trabalho de um Designer de Mídia Interativa?

Na minha pesquisa para o mestrado, defendi que o Designer de Interação é o designer que surge por uma necessidade na era da eletrônica, interessado no estudo da ergonomia e estética desses novos artefatos tecnológicos. Já o designer de Mídia Interativa, ramificação desse campo, aposta em interferir junto às mídias disponíveis, para propor novas dinâmicas que tendem a fugir da racionalização, se aproximando mais da arte.

Eu entendo que, na medida que muitas vezes quebro mais coisas do que crio, posso me dizer Designer de Mídia Interativa - mas o que gosto mesmo é de programar e fazer design, estando sempre atento para até onde isso pode me levar.

Acompanhe Guilherme Durão no Instagram, no Linkedin e conheça o SupLab.

Aproveite para ler outras entrevistas:

Manuela Paiva, Diretora de Arte e Designer.

Paula Brito, Sênior Designer na Work & Co.

Danielly Caetano, Designer Gráfica na Oliver LATAM e aluna da escola.

Lucas D'Ascenção, Designer gráfico, Diretor de Arte, Ilustrador e aluno da escola.

Renato Mendes, professor do curso de Estratégia de Produtos Digitais.